Canoa da Picada
As canoas da picada foram barcos de pesca e de comercio ligado a pesca. Encontravam-se no Tejo, no Sado e na costa sul, em Olhão e na Fuzeta.
Foi usada no século XIX e princípios do século XX.
Foram utilizadas na pesca do alto, mas a sua principal actividade foi a de compra de peixe alto-mar, aos pescadores, e o seu transporte para Lisboa. Saiam do Tejo carregadas de sal que servia para conservar o peixe que compravam. Quando a carga era de sardinha, esta era geralmente copejada das redes para o seu convés, salpicada de sal e acondicionada no porão. Esta sardinha era conhecida por «picada», termo que veio completar o nome da embarcação.
The “Canoas da Picada”, were traditional Tagus riverboats used for fishing and the fishing trade. They were common on the River Tagus, the River Sado and on the south coast around Olhão and Fuzeta from the19th century to the beginning of the 20th century.
While the boats sometimes fished on the high seas themselves, their main activity was the purchase of fish caught from others and its transportation to Lisbon. Boats would leave the Tagus packed with salt and, when they were buying sardines, these fish would be removed from their nets on-deck, salted and then placed in the hold. This kind of sardine was known as picada, a name that came to be associated with the boats themselves.
No entanto, não se limitaram a transportar para o Tejo a sardinha pescada fora da barra: iam a costa marroquina carregar sarda salgada, pescada pelos caíques, a fim de abastecer os mercados de Lisboa. Para o conseguir tinham de ser barcos as, velozes e com uma capacidade de carga apreciável.
Eram de linhas elegantes e fim as, de grande superfície vélica e de bom governo. Construíam-nas com muita quilha, que aumentando progressivamente da proa para a ré.
However, the boats did not only return to the Tagus packed with sardines caught outside Lisbon harbour. They would also sail to the coast of Morocco to load up with salted mackerel, caught by kayaks, to supply the Lisbon markets. Thus the little boats had to be fast and capable of carrying large loads.
These were elegant and slender vessels, easy to steer and featuring a large sail and a long keel running from bow to stern. The bow was straight and the stern square-shaped or round with the hull divided into three compartments.
Boats ranged in length from between 12 to 18 metres, in width from 4.2 to 5.5 metres, and in depth from around 1.5 to 1.8 metres. Larger vessels could reach a tonnage of 20 tonnes.
The Canoas da picada were the safest and best presented of all the traditional boats connected with fishing. Masts and boom, sails and cables were always of the highest quality and carefully maintained.
Owners tended to paint and embellished the boats with simple good taste. Most hulls were painted black, dark green or brownish red below the water line, with some also in white. Above the water line, they were usually white, finished off with black, green or red stripes. The stern usually featured some kind of small decoration, alongside painted geometric figures.
The sails were made up of a large, triangular, lateen sail plus a much smaller mizzen sail at the stern. The larger sail was wide, with a skirt and two to three ropes and was tied to a boom. A 12-metre long vessel could boast a boom of perhaps 20 metres. The boom was hoisted by a halyard hooked to metal eyes fixed in the deck.
When the wind was strong, the sail area was reduced by using the reefs or replacing the large sail by a small weather vane, hoisted onto the big mast and known as a caixamarim.
The boat’s crew was made up of seven men: a master, five seamen and a helper.
The early years of the 20th century saw races being held for canoas da picada. Most of these regattas were held in the bay of Cascais during the town’s naval festivities. The excellent nautical qualities of the boats and the expertise of their sailors made for shows of rare beauty. So it became natural for Canoas to be built simply for recreation and competition.
Today, only one original example remains – Fatinitza, currently on show at the Maritime Museum in Lisbon. Built in Setubal in 1903 using Riga pine, the boat was famous for races in which it competed in with another canoa called Benvinda.
As they were more graceful and elegant, these racing canoas were called coquetes. They had a round stern and were decorated with foliage. The canvas area of the racing canoas was greater than that of the fishing ones, with a supplementary triangular or rectangular sail rigged between the mast of the lateen and the base of the main mast. Although they sailed well and were good to steer, these boats demanded a daring crew with great experience.
A proa era direita e a popa quadrada ou redonda. O casco dividia-se em três compartimentos: o rancho, a vante e o porão a meio, seguido da câmara de popa, todos com as respectivas escotilhas.
No convés abria-se uma enora para enfurnamento do mastro principal, uma clara para a madre do leme e uma carlinga para fixação do mastro da catita.
Para reforçar o casco possuíam um verdugo ao nível do convés e barbados de proa.
As suas dimensões variavam entre os 12 e os 18m de comprimento, 4,20m a 5,50m de largura e 1,50 a 1,80m de pontal, aproximadamente.
As canoas de maiores dimensões atingiam a 20 toneladas de arqueação.
De todos os barcos tradicionais ligados à pesca, foram os que apresentaram o aspecto mais cuidado e maior nível de segurança. Tantos os mastros como a verga, velas e cabos de manobra eram de boa qualidade, impecavelmente acabados e tratados.Os seus proprietários caprichavam na qualidade da pintura e a ornamentação, embora simples, revelava bom gosto. A maioria destas canoas tinha o casco pintado de preto, de verde escuro ou de vermelho acastanhado, havendo-as também brancas. As bordas eram geralmente brancas, completadas com filetes pretos, verdes ou encarnados. A popa era ornamentada com uma pequena decoração e os barbados apresentavam geralmente figuras geométricas.
Podiam armar três remos por bordo, apenas utilizados na falta de vento.
O velame era constituído por um bastardo e uma catita ou mezena. O bastardo era largo, com saia e duas a três ordens de rizes. Envergava numa verga que tanto podia ser inteiriça como emendada, ou acrescentada de um penol.
Numa canoa de doze metros de comprimento, a verga atingia aproximadamente os vinte metros.
Como cabos de manobra esta vela possuía três orças, uma amura, uma escota, e duas carregadeiras.
A verga era içada por uma adriça, cujo aparelho de força engatava em olhais fixos ao convés.
A vela caita ou de mezena eram um latino quadrangular de carangueja que içava no respectivo mastro, e mechado verticalmente a meio da ré ou com ligeiro caimento para esta. Assentava numa carlinga e fixava-se por uma braçadeira á grinalda da popa. Completava esta armação um pau de botaló, ou caça-escotas, ligado ao mastro por um galindreu e tesado por dois patarrazes que amarravam em olhais cravados nas alhetas.
O mastro, que numa canoa de doze metros era de cerca de nove e vinte metros de altura, possuía um aparelho formado por dois ovéns e um guardim para cada costado. Os ovéns tesavam para as bigotas por colhedores e os guardins e respectivas talhas para olhais fixos ao convés, reforçado nestes pontos.
Para amarração de cabos utilizavam o capelo e os cabeços à proa.
Para os aparelhos do mastro, a da verga e das duas velas dispunham de olhais, bigotas, cunhos, reclamos e malaguetas, estas últimas colocadas em mesas, junto `s amuradas.
Quando os ventos eram fortes, reduziam a superfície vélica utilizando os rizes ou substituindo o bastardo por uma vela de tempo, de superfície reduzida, que içava no mastro grande e era conhecida por caixamarim.
Com o pano ferrado, a verga destas canoas ficava ao alto e a catita era “abafada” contra o mastro, bem como o pau de caça-escotas.
A tripulação era de sete homens: um mestre, cinco camaradas e um moço.
Durante os primeiro anos do século XX, realizaram-se inúmeras competições com canoas da picada.
A maioria das regatas teve como principal cenário a baía de Cascais e enquadrava-se nas festas navais desta vila.
As qualidades náuticas das canoas e a perícia dos seus mestres – velejadores exímios – proporcionavam espectáculos de rara beleza. Por isso constuíram-se canoas apenas para recreio e competição.
Só existe um exemplar, a Fatinitza, actualmente exposta no Museu de Marinha, em Lisboa. Esta embarcação encontra-se em perfeito estado de conservação, depois de restaurada; foi construída em Setúbal, em 1903, em pinho de Riga, e ficaram célebres os despiques entre esta canoa e outra de nome Benvinda.
Estas canoas, e também algumas das de pesca, tinham a popa redonda e eram ornamentadas com ramagens.
Por serem mais airosas e elegantes, foram apelidadas de “coquettes”.
A área de pano das canoas de competição era muito superior às das de pesca. Armavam, entre o mastro da catita e a base do mastro principal, uma vela suplementar, triangular ou rectangular e uma polaca que amurava para um pau fixado ao capelo da proa e ao mesmo mastro.
Embora bolinassem bem e fossem de bom governo, exigiam tripulações destemidas, com grande perícia e experiência.
A parte da verga que fica entre a proa e o mastro denomina-se carro e o seu comprimento é de cerca de dois quintos do comprimento total. A extremidade inferior tem o nome de lais do carro; a outra parte denomina-se pena e o comprimento é de aproximadamente três quintos do total da verga. À extremidade superior chama-se lais da pena. O ponto em que a verga cruza com o mastro é protegido por um forro formado por voltas contíguas de cabo ou totalmente em couro.
Manobra de passar a verga para o lado contrario do mastro para não se marear a vela “contra o pau”.
Esta manobra tinha de ser efectuada com vento bonançoso, para evitar avarias no aparelho do mastro, na própria verga e na vela, ou até virar a embarcação. As canos da picada utilizavam frequentemente esta manobra porque a mareação contra o pau era menos vantajosa. Só era efectuada com vento fraco pela popa, exigia grande perícia e não era isenta de perigos.